terça-feira, 11 de junho de 2013

Se você ainda não fez é (só) porque ainda não tentou (será que você deve?)

É engraçado como a idéia de algo que não existe e possivelmente sequer vai existir consegue nos paralisar. A ansiedade e a angústia geradas pela expectativa de um resultado nos fazem esquecer que cada segundo gasto imaginando um dos possíveis futuros nos impede de construirmos Aquele que desejamos. Por mais clichê que seja, nós realmente não temos nada além do “Agora”. E a nossa única certeza, além da Morte, é que eventualmente vamos cair.

 Quando percebemos a infinidade de variáveis de tem a capacidade de interferir nos “nossos planos” existem duas reações (opostas) possíveis: tentar racionalizar/prever tudo e sofrer, ou simplesmente abraçar o Erro. Se admitimos que não temos completo controle nem sobre nossas Vidas passamos a compreender o valor que Elas possuem: cada vez que algo “dá Certo” não se trata apenas de algo meticulosamente planejado e realizado, existe algo mais.

 A certeza do Erro torna o Acerto um imprevisto agradável. Algum pequeno gesto que nos permite compreender o que Fernando Pessoa quis dizer quando escreveu: “E acho que só para ouvir o vento passar pela janela vale à pena estar vivo.” 

A “ameaça” constante de cair passa a ser um sinal de alerta: Você está vivo! Se lembra? Faça algo! É essa a sua chance de arriscar viver aquilo que você sabe que merece...

Mas também é: Aproveite essa certeza da queda para prestar atenção no que você está vivendo agora... Talvez assim você possa “brincar de não cair” pelo maior tempo possível! 

Essa preocupação, quase que obsessiva, em estar focado naquilo que estamos fazendo (enquanto estamos fazendo) nos fornecem provas concretas de que é possível (mesmo que em um nível muito limitado) “escolhermos não cair”. E com o passar do tempo a preocupação se transforma em Hábito.

 O Hábito de Viver com sua projeção viso-espacial ampliada, ou seja, de estendermos nossas consciências corporal e mental ao ambiente que nos cerca. Sabermos exatamente: aonde estamos, porque estamos, como estamos, quem somos. Isto implica em estarmos constantemente atualizando nossos “softwares”, pois é inegável que a cada dia que passa somos uma pessoa diferente. A única constante deve ser (sempre!) a Intencionalidade: ações refletindo pensamento sinceros. 

Escrevi isso tudo só como uma forma de tentar explicar como eu me senti hoje (depois de tanto tempo sem treinar Parkour) quando percebi que eu era outro tracer: um monkey-precisão que antes era “fazível” agora parecia ter o triplo da distância; vi outro monkey-precisão que nunca tinha visto; arrisquei uma precisão pra uma cerca serrilhada (nunca achei que fosse fazer); e pela primeira vez passei um murinho fazendo um “speed” com a mão direita. Quando me dei conta de que este último movimento não foi planejado/racionalizado (foi simplesmente o que pareceu melhor, mais natural, pro meu corpo naquele momento) percebi que havia finalmente começado (depois de alguns anos “treinando”) a ser intencional (verdadeiro) nas minhas ações...

A resposta física neste caso “escapou” antes do pensamento. Mas isso não é algo ruim, pelo contrário, foi algo adaptativo que tornou o movimento leve, fluído, como as coisas Verdadeira são. 

Rio, 11/06/2013
Lucas O. Mourão (Sapo)

ps: Acabei de ver o slogan "Your moves are your thoughts" num vídeo do BAIT. Coincidência?