quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

"O que eu tô fazendo aqui?" (A Virtude do Compromisso)

     É sua primeira vez guiando. Você só subiu 2 metros na parede desde a última costura. Olha pra cima e não vê um caminho óbvio. Começa a se perguntar se deve arriscar subir mais 2 metros até a próxima costura e arriscar cair, ou se deve desescalar até a segurança da última costura. A ideia de uma queda, que fica maior à medida que você continua subindo (5, 6, 8 metros?) rumo à costura faz os 2 metros parecerem 20. Te paralisa. Enquanto você fica parado os músculos dos braços começam a doer. Você olha pra baixo pra se certificar de que pode confiar nos pés. A ideia de uma caibra ou tremor por medo te faz antecipar o medo de uma queda inadvertida que você levou se repetir...


    O pensamento vai longe, pra 2 meses atrás. Agulhinha da Gávea, via Zaib. Pavel guiando, Lia passou na frente porque além de ter anoitecido começou a chover. "Bora logo, senão a gente vai ter que dormir aqui!"... Quase no final dos 170 metros. Pé escorregando, ventania, relâmpago (lembra que semana passada na Pedra da Gávea um guia morreu com raio), você só não chorou porque tava aterrorizado e sabia que não ia ajudar em nada na situação. Travessia, tudo molhado, você perdeu os 2 pés ao mesmo tempo. Caiu pendulando e gritando no escuro, sem saber se ia bater em cacto, rocha, arbusto, bromélia ou árvore. "Eu nem me despedi da minha mãe". Surra de Agulhinha da Gávea (vídeo)

    O flashback termina mas a sensação de medo continua. Você respira pra evitar do medo virar pavor. Mas os seus músculos já estão tomados pela falta de autoconfiança. Sua mente não sabe o que fazer. Seus braços já estão cansados por ter gasto mais de 2 minutos pra clipar cada uma das costuras abaixo, ter feito "back clipping" e ter tido que consertar uma delas. Primeira vez guiando (vídeo)

    "Bora Lucas, moleza pra você! Tá no quintal de casa, em Copa!" - Pavel na seg te tira do transe. Nicholas e Felipe tão lá embaixo também. Do seu lado esquerdo estão guiando a Scorpion, 7a que é sua meta pessoal. Você percebe que os lances acima são óbvios. Claro, você já subiu a "Lions/Gardênia, estrela que não brilha" de top rope no dia 31, logo antes de vocês terem passado o ano novo na Chacrinha, vendo os fogos da praia de Copacabana.


    É só pagar uma barra, depois outra, depois um tapa no balcão logo acima. Você posiciona os pés na oposição e se puxa, ganha altura, a mão bate na parte abaulada da agarra e você cai. Poucos metros. Quando se dá conta que caiu já parou. Está tudo bem. Você não está machucado. Por que você estava com medo mesmo?

    Existe uma virtude em quebrar o limiar de inércia e se comprometer com a possibilidade do fracasso. Tanto na escalada, quanto no parkour ("quebrar o pulo"), quanto na vida. "Aceitar a arte de morrer", como diriam George Harrison e Bruce Lee. Não existe nada especial em guiar em uma escalada, assim como não existe nada especial em viver os desafios do dia-a-dia. A única coisa que as práticas físicas que envolvem comprometimento e risco deixam claro é que são uma metáfora da vida em sim.

    Então da próxima vez que você pensar "O que eu tô fazendo aqui?" redirecione para "Eu estou aqui porque sei aonde quero chegar, e sei o que preciso fazer pra isso." Não apenar pense, acredite. Não apenar acredite, realize. A recompensar é escapar do sofrimento gerado pela inércia, e não o sucesso.


Att,

Lucas

terça-feira, 11 de junho de 2013

Se você ainda não fez é (só) porque ainda não tentou (será que você deve?)

É engraçado como a idéia de algo que não existe e possivelmente sequer vai existir consegue nos paralisar. A ansiedade e a angústia geradas pela expectativa de um resultado nos fazem esquecer que cada segundo gasto imaginando um dos possíveis futuros nos impede de construirmos Aquele que desejamos. Por mais clichê que seja, nós realmente não temos nada além do “Agora”. E a nossa única certeza, além da Morte, é que eventualmente vamos cair.

 Quando percebemos a infinidade de variáveis de tem a capacidade de interferir nos “nossos planos” existem duas reações (opostas) possíveis: tentar racionalizar/prever tudo e sofrer, ou simplesmente abraçar o Erro. Se admitimos que não temos completo controle nem sobre nossas Vidas passamos a compreender o valor que Elas possuem: cada vez que algo “dá Certo” não se trata apenas de algo meticulosamente planejado e realizado, existe algo mais.

 A certeza do Erro torna o Acerto um imprevisto agradável. Algum pequeno gesto que nos permite compreender o que Fernando Pessoa quis dizer quando escreveu: “E acho que só para ouvir o vento passar pela janela vale à pena estar vivo.” 

A “ameaça” constante de cair passa a ser um sinal de alerta: Você está vivo! Se lembra? Faça algo! É essa a sua chance de arriscar viver aquilo que você sabe que merece...

Mas também é: Aproveite essa certeza da queda para prestar atenção no que você está vivendo agora... Talvez assim você possa “brincar de não cair” pelo maior tempo possível! 

Essa preocupação, quase que obsessiva, em estar focado naquilo que estamos fazendo (enquanto estamos fazendo) nos fornecem provas concretas de que é possível (mesmo que em um nível muito limitado) “escolhermos não cair”. E com o passar do tempo a preocupação se transforma em Hábito.

 O Hábito de Viver com sua projeção viso-espacial ampliada, ou seja, de estendermos nossas consciências corporal e mental ao ambiente que nos cerca. Sabermos exatamente: aonde estamos, porque estamos, como estamos, quem somos. Isto implica em estarmos constantemente atualizando nossos “softwares”, pois é inegável que a cada dia que passa somos uma pessoa diferente. A única constante deve ser (sempre!) a Intencionalidade: ações refletindo pensamento sinceros. 

Escrevi isso tudo só como uma forma de tentar explicar como eu me senti hoje (depois de tanto tempo sem treinar Parkour) quando percebi que eu era outro tracer: um monkey-precisão que antes era “fazível” agora parecia ter o triplo da distância; vi outro monkey-precisão que nunca tinha visto; arrisquei uma precisão pra uma cerca serrilhada (nunca achei que fosse fazer); e pela primeira vez passei um murinho fazendo um “speed” com a mão direita. Quando me dei conta de que este último movimento não foi planejado/racionalizado (foi simplesmente o que pareceu melhor, mais natural, pro meu corpo naquele momento) percebi que havia finalmente começado (depois de alguns anos “treinando”) a ser intencional (verdadeiro) nas minhas ações...

A resposta física neste caso “escapou” antes do pensamento. Mas isso não é algo ruim, pelo contrário, foi algo adaptativo que tornou o movimento leve, fluído, como as coisas Verdadeira são. 

Rio, 11/06/2013
Lucas O. Mourão (Sapo)

ps: Acabei de ver o slogan "Your moves are your thoughts" num vídeo do BAIT. Coincidência?

sábado, 16 de julho de 2011

“Escolha não cair” ?

A gravidade existe. Felizmente ( ou infelizmente). A história de escolher não cair é muito interessante, mas existem momentos em que as coisas caem, independente de nossa vontade. Controlamos nossas vidas somente até certo ponto...

Sábado, 16 de julho de 2011, 20:48 p.m. Chego em casa cansado e vou tomar um banho. Logo que entro no banheiro e fecho a porta acontece o que menos esperava: a maçaneta do lado de dentro cai. “Tá de brincadeira...”. Tento colocá-la no encaixe com a maçaneta do lado de fora (minha esperança de abrir a porta), mas a situação só piora: acabo empurrando o encaixe da maçaneta de fora ainda mais para fora. Pronto, agora não consigo mais encaixar a maçaneta de dentro pra sair...
Detalhe No 1: estou só em casa. Detalhe No 2: Procuro o celular no meu bolso pra avisar que ( por mais patético que seja) estou preso na banheiro da minha casa. Não o encontro no meu bolso. Detalhe No 3: está frio (aproximadamente 9 graus). Não tenho casaco, e à medida que a noite avança vai ficar mais frio. Detalhe No 4: por sorte tem uma janela no banheiro (mas ela é pequena demais para conseguir sair através dela).
O tempo passa bem devagar quando você não tem digamos... Nada pra fazer. Depois de um tempo já havia me conformado. Estava esperando alguém chegar pra me resgatar desse “acidente” de sábado à noite. Digamos que a idéia de gritar pela janela “To preso no banheiro” fosse ridícula demais, além de desnecessária já que nenhum vizinho tinha a chave da minha casa.
Olho no relógio: 9:15 p.m.... Já estava sentado num canto, pensando em tudo que me distraísse do fato de estar preso. Então: “ Perai. Eu já sou velho demais pra passar uma vergonha dessas. Deve ter algum jeito de sair daqui...”. Volto na porta e olho pelo buraco da maçaneta. “É claro! A maçaneta de fora não foi empurrada o suficiente pra cair. Tudo que tenho que fazer é achar uma forma de puxar sua haste para dentro, pra poder encaixar a maçaneta de dentro.” Olho ao meu redor. O “instrumento” que pareceu mais útil foi uma tesoura de cortar unha. A idéia era utilizá-la como uma garra. Tentei introduzi-la semi-fechada no buraco da maçaneta e abri-la na tentativa de pegar a haste da fechadura de fora. Para o meu azar o buraco não permitia que a tesoura fosse aberta o suficiente para segurar a haste da maçaneta e puxá-la. Olho ao redor novamente. Outra tesoura! Isso! Coloco uma tesoura por baixo da haste e outra por cima. Introduzo e seguro as duas com calma e cautela pra não fazer a maçaneta que ainda resta cair.
Depois de alguns movimentos discretos de uma lado pro outro com a minha “pinça improvisada” consigo trazer a haste da maçaneta de fora para perto da abertura do buraco da maçaneta. Finalmente tenho condições de encaixar a maçaneta interna, girar e... Funciona! Novamente livre!
Moral da história: nunca entre no banheiro sem um celular, mas caso isso aconteça, não se desespere... Existem várias formas de lidar com situações adversas e “se safar”, tudo depende do modo como você enxerga as coisas à sua volta. Se você se convence que foi vencido seus olhos ficam cegos para as formas mais simples de resolver os problemas.

Att Lucas O. Mourão (Sapo)
Rio, 16/07/2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

Determinação

A humanidade levou 50 milhões de anos até chegar no estágio de desenvolvimento atual. Nossa expectativa de vida gira em torno dos 70, 80 anos. E cada dia só tem 24 horas. Qualquer evolução que ocorra durante nossas vidas vai ser, no máximo, mais um grão de areia perdido num deserto. E mesmo assim esse curto tempo é tudo que nós temos. Só isso e nada mais. Ai está a origem da nossa insignificância. Mas não devemos deixar de nos dedicar, de tentar evoluir e mudar algo. Afinal, essa vida é tudo que nós temos.
No parkour, assim como nada vida, os resultados não acontecem de uma hora pra outra. São necessárias varias horas de treino pra aperfeiçoar um movimento, e quando ele não é repetido com freqüência há perda significativa de sua qualidade. Muitos têm falado sobre uma “comunidade mundial” de tracers que se apóiam e não visam a competição. Isto é em parte verdade. No entanto, o que mais se vê são demonstrações de imaturidade e insegurança de praticantes que só querem ser aceitos aos olhos dessa “comunidade”. Frequentemente vejo comentário em vídeos dizendo: “Nossa, como você é bom! Espero que você continue assim e um dia seja reconhecido pela “comunidade internacional”.
O individualismo, o egoísmo. Este é atualmente o maior obstáculo ao desenvolvimento do parkour. É preciso ter censo critico pra saber reconhecer seus pontos fracos. Se meu lache é ruim vou treinar para melhorá-lo, e isto não vai acontecer em uma semana. Talvez aconteça em um ano.
Não se pode fazer um bolo sem uma fôrma. Não se pode tornar-se um verdadeiro tracer sem caráter, sem personalidade.

Escrito em 9 de setembro de 2010 (postado só agora não sei bem porque...)
Att Sapo (Lucas O. Mourão)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A impermanência das coisas ( no caso Pq dos Patins)...

Já faz mais de um mês. Era uma linda manha de sábado. Eu tinha um monte de coisas pra estudar, mas resolvi dar aquela protelada básica de "dar uma folheada no jornal pra ver o que tem de novo". E aí vem a parte trágica da história. Acho que fiquei uns 20 munitos em choque, sem acreditar: TODOS OS BRINQUEDOS DO PQ DOS PATINS VAO SER DEMOLIDOS. NO ESPAÇO VÃO SER CONSTRUÍDAS DUAS CICLOVIAS E VÃO SER COLOCADOS BRINQUEDOS NOVOS.

Liguei pro JJ desesperado na mesma hora auhehauehauehue.

Link da matéria:
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/11/19/area-de-lazer-da-lagoa-entrara-em-reforma-ate-fim-do-ano-923061485.asp


Sabe aquela velha história "Se não tá com segurança melhor fazer depois! Volta aqui outro dia e tenta de novo!" ?
E se não tiver um "tenta de novo"?
Às vezes somos cercados por tantas facilidades que não nos damos conta de que o único momento que realmente existe é o agora! E no último ano (quase) todos os lugares de treino da Zona Sul com coisas que eu ainda queria fazer foram demolidos ou entrarem em obras! É nessa hora que bate aquele arrependimento... O famoso sentimento de culpa dos covardes de "devia ter tentado isso antes..."
Faço aqui a lista dos locais demolidos/em obras:

1) Passarela do Obelisco (no começo de Ipanema)-
Era pra ser uma passarela mas acho que a estrutura não ia aguentar o pessoal circulando ou os moradores da vizinhança vetaram. Acabou virando uma "passarela-fantasma" com uma parede de uns 3 metros e pouco na parte mais baixa. Fui deixando pra depois e acabou que nunca subi lá.

2) Muro do lado da Estação de Botafogo (indo na direção do Mourisco)-
Também com uns 3 metros e uns trocados de altura... Esse pelo menos eu tentei e quase consegui subir...

3) Pracinha na frente da estação de Botafogo-
Da noite pro dia surgiu um canteiro de obras cercando a praça toda.

É uma lista curta e espero que ela continue assim.

Mas a Lagoa?! Nossa... Acho que se tudo aquilo for demolido eu vou chorar por uma semana! Lá sim, tem coisas que eu ainda não fiz. MUITAS! E coisas que eu ainda nem imaginei tentar...
Lembro do meu primeiro dia de treino lá. Novembro de 2006. Eu tava andando de patins e um cara que eu conhecia virou pra mim e falou: " Olha lá o pessoal do parkour. Você não vive falando que quer fazer isso ai?" Eram cinco ou seis pulando as mesinhas de ping pong. Só. Comecei a me tacar e logo de cara já ganhei uns arranhões. Ah, e como todo bom noob não parava de perguntar como fazia pra aprender mortal. A resposta: "Posto 8. Ipanema. 2h" Esse resposta que me levou a ir no treino da praia, e uma semana depois já tava fazendo aula na Akxe da Barra com o Alexandre. Ah... Bons tempos!
Depois veio o PKJB, e eu vi o tempo passar enquanto a maioria parava... Lembro do primeiro dia de treino do Leon, que chegou quando eu tava repetindo precisões na minha época de "tarado pelos Castelinhos". Lembro do dia em que o Alex Sahy e Remi Bakkar ficaram olhando o Zico e o Bacon fazendo uma sequencia de running-precision com mortal pra frente. Lembro do 1o Encontro Carioca de Parkour. Lembro do primeiro treino do Aquaman (se tacando nas precisões hauehauehuee). Lembro do dia em que um mulequinho de uns 5 anos, descalço, tacou uma precisão de cima dos castelinhos, e saiu como se nada tivesse acontecido... Enfim.

Felizmente conseguimos realizar o 6o EBPK sem maiores problemas. Conseguimos usar o espaço do Pq dos Patins do dia extra-oficial. Nos dois dias do encontro foi passada a lista de abaixo-assinado contra a demolição deste espaço histórico do parkour nacional. Conseguimos pouco mais de 130 assinaturas...

Agora graças à cooperação do pessoal do Portal Parkour temos o abaixo assinado na internet!
Ele já está com mais de 200 assinaturas, mas tenho certeza que muita gente ainda não assinou. Ajude a divulgar:

http://www.parkour.com.br/abaixo-assinado/demolicao-da-lagoa/

Que o flow esteja com você!
Att Sapo... HAUUUUUUU!! HAUUUUUUUU!!!!! HAUUUUUUUUUU!!

domingo, 31 de outubro de 2010

Belos Horizontes ou dores musculares?

É engraçado como de uma hora pra outra tudo muda.

Acho que BH é sempre assim. Tem esse efeito de “tapa na cara da sociedade”. Da última vez que fui lá pro 4o EBPK minha relação com o parkour se renovou e me motivou a buscar novos caminhos, investindo mais na parte criativa da minha movimentação, construindo minha identidade... Mas dessa vez foi mais pra uma surra com taco de beisebol.
Saí do Rio de Janeiro às 22:45 h do dia 17/07/2010 num ônibus da UTIL com a galera da Omnis em peso (e infelizmente alguns desfalques) e tracers de São Gonçalo. Nosso destino era Belo Horizonte. Chegava prevista pra 5:30 horas da manha, com uma parada prevista em Juiz de Fora.

Meu corpo estava ansioso. Minha mente estava vazia. Eu fiz o maior esforço possível para mante-la dessa forma: livre de expectativas. Expectativas são perigosas, elas te limitam, te condicionam.

Quando chegamos em Juiz de Fora acabei acordando. Alguém que estava no ônibus falou algo do tipo “Po, só tem mato aqui, nem dá pra treinar!”. Respondi na hora que tal afirmativa estava errada, PKJF= brabeza extrema. É claro, não pude deixar de me lembrar dos bons momentos que passei no Carnaval deste ano treinando nesta cidade com Cristian, Luciano, Ícaro, “Homem-Bruninho”, Aquaman. É bem verdade que eu não escrevo nesse blog faz um tempo. Um dos motivos é a falta de tempo, o outro é o fato de que tava esperando sair um vídeo da viagem minha e do Aquaman pra JF.
Enfim, na minha mente vieram os momentos inesquecíveis que passei nesta cidade:

Os treinos diurnos e noturnos nos trilhos do trem (um deles vestido de Chapolin);

Os treinos na Universidade Federal de Juiz de Fora, um lugar lindo que lembra muito Lysses (de verdade!), tanto que existem umas rampas que o pessoal de lá chama de Mini-Lysses;

O treino de giros no gramado em frente ao Shopping de JF;

O açaí com morango;

O treino na pista de skate abandonada (depois de uma longa caminhada em baixo de sol à pino);

A festa de despedida do Miguel, na qual: tracers, não-tracers e desconhecidos pararam suas atividades pra assistir Out of Time; fiz minha primeira parada de mão subindo; Cristian mandou mortal no meio da rodinha; Bruninho mandou flair; um cara muito doido saiu correndo de cueca e pulou na piscina; todo mundo girou na grama e na piscina; o Ícaro botou a música do Homem-Macaco pra tocar; gastamos horas planejando um filme de terror-trash que envolveria parkour e uma moeda amaldiçoada e no qual o protagonista seria atropelado por um trem na última cena (mas nunca gravamos nada);

O dia em que assistimos dois filmes ruins no cinema ( O lobisomen e Percy não sei das quantas) e na volta do Shopping, quando passávamos na frente de uma favela às 1:30 h da madrugada dois pivetes começaram a tacar pedras na gente, e enquanto corríamos o Ícaro começou a gritar “ LÁ VEM O HOMEM-MACACO CORRENDO ATRÁS DE MIM!”

O Aquaman ownando no arco e flecha;

O rodízio de Pizza, e muitos outros momentos...




Alguns deles estão no último vídeo com meus movimentos de parkour, junto com cenas do Rio em outubro e janeiro, e cenas de dois dias de treino em Vitória* (no final de Janeiro com o pessoal da Famille Flux). Já fazem 15 meses desde meu último vídeo (“May the flow be With You”). O motivo desse intervalo foi principalmente a falta de tempo por causa da faculdade.

O conceito do vídeo surgiu em outubro do ano passado ( há pouco mais de um ano) se não me engano logo depois do One Giant Leap. Era uma idéia bem simples: aproveitar a cena que ao meu ver consegue resumir o que é Matrix ( a cena do metrô em que Neo resolve enfrentar o agente Smith). Foi ai que percebi que existe um paralelo absurdo entre a frase do Morpheus nesta cena “ He’s beginning to believe” ( “Ele está começando a acreditar”) e o que é o parkour (acreditar). Daí veio a idéia do titulo : Começando a acreditar (Beginning to Believe)*. Entre essa idéia e o começo da edição se passaram quase 4 meses. A edição começou um pouco antes da viagem pra Juiz de Fora em fevereiro... e só terminou nessa sexta-feira passada (dia 29 de outubro)!

[Vídeo Começando a acreditar (Beginning to believe)] *

http://www.youtube.com/watch?v=4OH3BbqRLm0

Neste meio tempo muitas coisas boas aconteceram, incluindo o 3o Encontro Carioca de Parkour, e o 1o dia do 2o Encontro Niteroiense de Parkour que aconteceu ontem! (faltei hoje porque tava morto e só acordei meio-dia... 500 flexões pra mim!).

Enfim...

Voltando ao contexto da viagem pro 4o Encontro Mineiro de Parkour (tema central do post)... Foi quando acordei em JF, e me lembrei de todos os bons momentos que passei lá, que toda essa história de manter a mente vazia foi pro espaço. Meus pensamentos foram tomados por todas as imagens dos lugares de treino na UFMG (onde seria realizado o evento), mal podia esperar. Mas apesar de toda essa euforia silenciosa eu dormi até chegarmos em BH. Dormi não, apaguei.

Enfim, 5:15 da manha. Estávamos no terminal de ônibus de BH. Mais de 15 cariocas com malas, perdidos, totalmente perdidos (embora só fossemos nos dar conta disso mais tarde). Depois de uma breve discussão sobre o melhor meio de transporte até o Chalé Mineiro (albergue onde havíamos feito a reserva) decidimos pegar o Metro. Saltamos na estação mais próxima ao bairro de Sta Efigênia e começamos a andar, andar, andar. Enfim estávamos lá. Nos hospedamos, fomos comer na padaria lá perto. Pegamos um ônibus que passava pela UFMG.

Saltamos na entrada principal da UFMG. Perguntei ao trocador se o campus de educação física ficava próximo e recebi um “sim” de resposta. Que beleza! Depois de uns 40 minutos caminhando ( e passando por lugares bonitos e locais que reconhecemos de vídeos) enfim chegamos.

Fazer as inscrições, reconhecimento do local, reencontrar bons e velhos amigos de tudo que é canto do Brasil, treino de leve: Leo Laranja subiu um muro grotescamente alto de cara; Arly fazendo suas monstruosidades; JJ , Arthur e Passarinho mandando uma sequência de monkey-precisão-precisão-cat numa árvore; Tica mandando um monkey-precisão brabo (depois de umas tentativas perdi o medo e consegui fazer também); Pipolo passando só no alongamento por uma coluna (descobri que meu alongamento é pior do que pensava e só depois de várias tentativas consegui).

Fomos todos chamados pela organização do evento: decepção, só íamos ver os gringos depois de um intervalo pra almoço.
Supermercado Carrefour, em frente à universidade. Almoço “firmeza”: arroz, feijão, carne, batata e suco de laranja. Eu ia me arrepender de ter comido tanto... Pagar? Só depois de almoçar (isso que é confiança). Na volta um cat leap de leve na entrada do Carrefour. Arly também mandou (climbando na velocidade-da-luz pra variar) e JJ mandou a precisão voltando.

Uma hora da tarde. Todo mundo se encontrou no gramado. Após um breve discurso do Rachacuca apresentando toda a galera da CTT, Brasília e da PKMAX que tinha participado do A.D.A.P.T. (Art Du Deplacement and Parkour Teaching) enfim ouvimos algumas palavras do Blane sobre como ia ser nosso dia. Stephane Vigroux e Dan também estavam lá. Só reconheci o Vigroux quando foi feita menção ao nome dele.

Fizemos um aquecimento, orientado pelo Blane, com umas posições de flexão um pouco diferentes e com foco na respiração.

Nos dividimos em grupos. A idéia foi alternar entre “estações” seguindo o treino passado pelo pessoal que tinha feito o ADAPT.
Logo na primeira estação já me empolguei e quis subir um muro rápido demais( puxei o pé rápido e já fui soltando as mãos) Resultado: a ponta do pé esquerdo travou na parede e eu cai, acertando meu cotovelo esquerdo na quina. Logo depois rolou um exercício de passagem por um murinho de diferentes formas e sem parar pra descansar. Resultado: fiquei com falta de ar e tive que sentar pra me recuperar. Conclusão: “sou sedentário...”

Na segunda estação tivemos que trabalhar no “modo cooperativo” pra chegar até o final de um percurso com mesinhas redondas e bancos. Depois fizemos um exercício de ficar de olhos fechados e sermos empurrados em várias direções, pra melhorar o rolamento.

Na terceira estação tínhamos que climbar um muro e passar por um murinhos e duas grades verdes. Várias vezes. No começo foi tranqüilo. Depois de um tempo que comecei a sentir o cansaço. Quem tava orientando essa estação era o Dan, e foi justamente isso que ele falou: “ A questão não é o nível de dificuldade, mas sim a sua resistência.”

A quarta estação era uma pracinha com uns bancos em formato de “U”. Lá fizemos uns percursos com foco nas precisões, e orientação do Blane que até passou um desafio de precisão pro Raxa! Hueaheuaheuaheue

A quinta, e pelo que eu lembro ultima estação era um percurso entre uns bancos e com um cat leap pro parapeito de uma escada. Quem tava observando e ajudando com dicas era o Vigroux.

Pelo que eu me lembro foram essas as estações. Mal tivemos tempo pra respirar e já tínhamos que voltar pro gramado onde iniciamos com o alongamento. E, é claro, nada melhor do que um treininho de físico puxado pelo Blane pra concluir a tarde. Fizemos duplas, e o exercício que eu lembro melhor era tentarmos subir na posição de flexão enquanto nossa dupla fazia força na direção contrária. A dupla do Blane era o Dan, e como ele inicialmente não conseguiu impedir o Blane de subir uma negada acabou se amontoando pra empurrar o Blane pro chão. Eita bicho brabo!

Logo depois teve um desafio pra ver quem ia ficar na roda até o final. As regras eram simples, quem saísse tinha que ajudar a tirar quem ainda não tinha saído. O tipo de brincadeira que te deixa com uns arranhões (por que nego sem noção saí puxando de qualquer jeito). No final ficaram dois vencedores, que foram premiados com camisas da pk generations.

Por último, tivemos um exercício de respiração com o Vigroux que era basicamente ficar em silêncio, e não prestar atenção em mais nada além da sua própria respiração.







[ Vídeos da Omnis do pessoal do Rio no EMPK]

Parte ½:

http://vimeo.com/15415638

Parte 2/2:

http://vimeo.com/15443280

Já eram umas seis da tarde. Momento de tirar fotos e tal. Comentei com o Vigroux sobre a fala dele no documentário (Le singe est de retour)* dizendo que ele achava uma vergonha os primeiros praticantes terem brigado e se dispersado por motivos individuais. Ele disse que atualmente se sente fazendo algo para que isso seja diferente, justamente através de aulas, encontros da pkgen e viagens por diferentes países.

[ Documentário “le singe est de retour”]*

http://www.youtube.com/watch?v=q4mZf80fOhQ

Também perguntei ao Blane sobre o motivo dele não postar mais vídeos (mesmo tendo deixado claro que esse provavelmente era o tipo de pergunta chata que todo mundo devia fazer toda hora). A resposta foi que ele considerava que estava evoluindo ainda e que se ele fizesse um vídeo agora, no momento em que ele fosse publicado, já estaria ultrapassado. Então ele iria esperar a evolução se estabilizar pra gravar alguma coisa.






Vigroux





Blane


Depois do momento de descontração veio a bomba. Hellnight. A noite do inferno. O criador do treino, Chris “Blane” Rowat fez questão de enfatizar o famoso “fica quem quer!”. Explicou que era um treino físico pesado e que se você estivesse com algum machucado ou com alguma condição que te impedisse de treinar era melhor ir embora pra descansar. Ninguém que não fosse participar poderia ficar pra assistir ou filmar (senão poderíamos denunciá-los por maus tratos, claro!... brincadeira hauehauehuae) . E, o mais importante “WE START TOGETHER, WE FINISH TOGETHER!”.

Se eu dissesse que foi um treino duro eu estaria mentindo. Foi o inferno na Terra! Menos pro Raxa que tava com cara de quem tá passeando ahuehauehaueuhue.

Começou com o desafio de andar de quadrupedal, sem direito a pausa pra descansar, num percurso de ida e volta. Tínhamos que completar três vezes. Indo de frente e voltando de costas....Falando assim até parece fácil. Deve ter durado uns 40 minutos... Mas pareceu uma eternidade! O problema era que tava um breu. Nem dava pra ver se já estávamos chegando no final do caminho ou não. E depois de um tempo começou uma cãibra em todos os músculos. Pra tudo que é lado que você olhava tinha gente caída de dor, gente continuando e tentando motivar os outros, e o Raxa falando “ Não vamo dar mole pra esses gringos não! Se eles conseguem a gente também consegue!”. “HAUUUUUUUUUU!!!!”. Quem terminasse tinha que esperar os outros na posição de flexão. Teve gente indo embora e gente passando mal.

Logo depois fomos correndo até os corredores. O exercício era dar uma volta num bloco carregando sua dupla. O Bryan começou me carregando e, lá pelo meio do caminho eu vejo um cara passar correndo por mim com o Blane nos braços: “ Po cara, to muito cansado, mas tipo assim, é o Blane véi!”. Eu já ri sozinho muitas vezes me lembrando disso.... Hhauehauehuaehuaheue. Enfim, no minha vez de levar o Bryan, lá pelo quinto ou sexto passo senti uma pinçada nas costas. Parei. Depois teve carrinho de mão e agachamento (também dando a volta no bloco da educação física onde fica o auditório). Entre uma espera e outra não podíamos tocar os pés no chão. Era flexão ou ficar sentado com as pernas cruzadas no ar.

Passamos pro mesmo local onde tinha sido a primeira estação do meu grupo: um muro, um gramado logo em cima e uma mureta ( é de onde eu saio e pra onde eu volto nesse videozinho que filmamos de zueira no dia seguinte- domingo- na hora do almoço: http://www.youtube.com/watch?v=GbYvkZxwFH0 ). Dessa vez tínhamos que andar pela parte de dentro da mureta sem tocar os pés no chão e depois voltar de quadrupedal de costas. Em seguida tínhamos que ficar na posição de climb, passar até o ponto mais longe que conseguíssemos do muro e climbar. Quem caísse pagava 100 flexões. Ninguém caiu. Se não me engano tínhamos que repetir tudo 3 vezes.

Em seguida fomos divididos em grupo. Eram mais ou menos 7 grupos. Enquanto um grupo descia pra fazer 5 ou 10 climbs (advinha quantos eu escolhi fazer...) os membros do demais grupos tinham que ficar em posição de flexão. Foram 3 ou 4 vezes. Terminamos e voltamos correndo até o ponto de início.

Foi ai que deu “a treta” o Blane falou que tudo isso tinha sido só uma volta. E que o percurso completo era 4 voltas. Hesitei por uns 2 segundos no máximo e fui embora. Sofrimento tem um limite. Achei que não ia me trazer mais nenhum beneficio.
Pois eu já estava há uns 15 minutos sentado, numa parte mais isolada, conversando com o pessoal que tinha saído também quando todo mundo que tinha ficado e o Blane passam... Era tudo “treta”. Eu fiquei bolado: “Lying is not parkour!”. Até hoje, quando me lembro disso ainda fico decepcionado com a atitude dele. Tudo bem... Foi uma brincadeira! Mas, nem achei legal.
Eram umas 21:30 h e o portão tava fechado. Tivemos que esperar um tempão porque o guarda tinha ido chamar o outro que tava com as chaves. Quando saímos ainda tiramos animo (não sei de onde) pra climbar a parede do Carrefour. Compramos uma lasagnha de microondas e esquentamos no hotel. Foi a melhor lasagnha que eu já comi.

No dia seguinte (18/07/2010) acordamos, fomos na padaria ( e como sempre reclamaram porquê eu sou lento pra comer) e fomos pra faculdade. Chegamos lá pelas 10h. Tinha acabado de começar um momento de “perguntas e respostas” com Vigroux, Dan e Blane. As perguntas giraram em torno de quais seriam as melhores palavras/ valores que sintetizam o espírito do parkour na opinião deles; qual a opinião deles sobre competições de parkour; qual a formação de cada um deles. No final aproveitei pra perguntar pro Vigroux se ele ainda tinha contato com o Belle, e caso ele tivesse qual era a opinião dele sobre o ADAPT. E também se o Hellnight lembrava a ele os primeiros treinos noturnos com o Belle.

Resposta: Sim, eles ainda têm contato. Ele não sabe a opinião do Belle especificamente sobre o ADAPT, mas disse que no geral ele apóia as iniciativas da PKGen. E o Hellnight é muito similar, em intensidade, aos primeiros treinos dele com o Belle.
“... em intensidade...”. Daí fiquei imaginando que os treinos iniciais dos dois deviam envolver muito mais movimentação utilitária do que condicionamento físico puro...

Na hora do almoço só comi uma goiaba que o JC me deu, e aproveitei pra filmar aquele videozinho com o Pipolo (postei o link logo aqui em cima quando falava do Hellnight).

Depois do almoço teve início mais um treino orientado. Como o nosso ônibus ia sair às 17:00h e já eram umas 14h só ficamos acompanhando de perto. Vimos o Blane e o Vigroux quietos num canto e aproveitamos pra perguntar o que eles achavam do parkour brasileiro (se era o que eles esperavam). Descobri que o Vigroux nunca tinha visto vídeo nenhum e não tinha espectativas. Já o Blane tinha visto alguns poucos vídeos (me lembrei de um comentário dele que vi num vídeo do Onii). Mas os dois foram unânimes em declarar que “ existe muita energia, muito potencial, mas que isso tem que ser melhor aproveitado pro parkour brasileiro evoluir mais.” Na hora da despedida entreguei minha camisa branca da Omnis pro Vigroux e o Carlos entregou uma no modelo preto pro Blane.

Tiramos mais umas fotos, nos despedimos do pessoal, subimos mais uma vez o muro, e fomos direto pra Rodoviária. Mas aquilo ficou na minha cabeça ecoando: “melhorar o nível do parkour”. O que eles queriam dizer com isso?! Pular mais longe?! Acho que não. O próprio Dan no dia anterior tinha falado várias vezes “ pular longe é questão de força. O importante e controlar o movimento e não fazer barulho”. Seria isso então? Nos tornarmos “menos estabanados”?... Menos “jogados”? Menos “modas”? Não sei até hoje. Mas já não me sinto mais “ofendido” ou frustrado por ter recebido uma critica tão forte. Talvez seja a verdade mesmo... Talvez sejam eles que não tenham percebido que tem muita gente boa aqui... Talvez estivessem se referindo à imensa maioria (de iniciantes)...


Na rodoviária comi um sanduíche e fiquei conversando sobre matemática e didática com o The Mesc. Foi uma conversa interessante. Pegamos o ônibus. Desmaiei e acordei no Rio. Cansado. Muito cansado. No dia seguinte ia ter que acordar às 6:00 h. Cheguei em caso, tomei um banho e capotei.

Fiquei sentindo as famosas dores musculares por mais ou menos uma semana. E no carioca ainda sentia uma dorzinha em pontada no joelho esquerdo. Felizmente ela passou.

E agora?

Que venha o 6o EBPK, aqui no Rio de Janeiro!

http://www.youtube.com/watch?v=GhVORTr86so


Att Sapo

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Planeta dos Macacos

O dia é sexta-feira, 13 de agosto de 2010. Mais um dia normal. Andando pela rua na hora do almoço vi uma mureta de onde dava pra fazer uma precisão pra um parapeito em cima do túnel que fica perto do Rio Sul. Se eu passasse... Bem, eu não podia passar. Mas era um pulo realmente “fácil”, se é que podemos nos dar ao luxo de menosprezar algum obstáculo. Enfim, era só me concentrar e nada ia dar errado. Tinha pelo menos umas 3 formas diferentes de salvar. O parapeito onde ia aterrisar tinha uns 40 a 50 cm de largura (dava até pra aterrisar de calcanhar... Cabiam uns 2 pés ali!). Me concentrei pra pular e... “Perae, você vai mesmo fazer isso?... Deixa eu filmar.” Daniel. Há esqueci de mencionar que estava com meus amigos Daniel e Santiago. Fiz o pulo. Tava tudo filmado (não que eu fizesse questão, pois como disse era um pulo simples). Tudo bem.
Alguns minutos depois. “VOCÊ É MALUCO?! VOCÊ PODIA TER MORRIDO, SABIA???” ; “EU NÃO ACREDITO!” ; “SÉRIO, DEPOIS DISSO NÃO FALO MAIS COM VOCÊ!”. Foi mais ou menos essa a reação das pessoas pras quais o vídeo foi mostrado (sem eu saber). Depois de algum tempo finalmente entendi do que se tratava. Não se pode mostrar um vídeo com movimentos de parkour, feitos a um certa altura, pra uma pessoa que não pratica parkour. Por mais absurdo que pareça, minha experiência mostrou que 99,99999999999% das pessoas vão no mínimo te chamar de maluco, ou até mesmo fazer você prometer “que nunca mais vai fazer isso...” Acontece que eu faço isso praticamente todo final de semana há algum tempo já. Eu não sou um maluco que decidiu se tacar em cima de um túnel. Não. Mas... Tenta explicar isso pra alguém que não treina parkour. Complicado.
Mais tarde, voltando pra casa, logo que saltei do ônibus às 16:10 h vi uma família de pelo menos 15 macacos. Parei no meio da rua pra olhar. Engraçado como embora todos seguissem num mesmo sentido cada um ia por um galho diferente de uma forma diferente. O “percurso” deles começava com um salto do telhado de uma casa, onde tinham que ficar pendurados de lado (como se fosse um cat leap de uma mão), se balançar e jogar uma precisão pra um tanque. Depois que uns 4 repetiram o movimento teve um que se pendurou e ficou parado pensando até que arregalou os olhos desesperado, morrendo de medo. Voltou e simplesmente tacou uma “precisão suicida” pra uma moita do lado do tanque. Outro ficou agarrado num tronco mais próximo de mim e quando notou minha presença se aproximou. Tentei ficar equilibrado num cano pra ver o que ele achava. Acho que me estranhou. Depois de uns 5 minutos ele continuou a seguir a trilha. Cada macaco fluindo de árvore em arvore do seu jeito. Darwin estava certo!
Ao invés de ficar vendo Partoba ou coisas do gênero as pessoas deveriam assistir mais os macacos. Não existem garantias de que eles vão sempre acertar. Eles também tem seus medos e inseguranças. Cada um deles se move da sua própria forma. Então, porque eles foram “feitos pra isso” e nós não?
Que o flow esteja com os primatas!
Att Sapo